quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus - 2006 - Texto Aparecida Lisboa Penido

ACASO
Entre quatro paredes tenho um segredo
Que desaba por medo, bem na hora de dormir.
Ajeito o lençol, aperto o meu travesseiro,
Que exala o seu cheiro de quando esteve aqui.
No que devo acreditar?
Na poeira do seu rastro,
Na trilha dos seus passos
Ou no acaso do amanhã!
Vou lá fora ver o tempo passar,
Não tenho nada a fazer a não ser ter saudade!
Sinto a hora e o tempo perdido
E sem nada a fazer a não ser esperar...
Vou lá fora ver o tempo passar
Não tenho nada a fazer a não ser...
Sinto a hora e o tempo perdido
E o que vou fazer?
Acaso é, um caso mal resolvido.
É assim... Não sou sua metade
Mas quando tenho saudade
Sinto você, em toda parte de mim...




ENXURRADA
Corre mamãe, a chuva já começou,
Pega o balde, aqui tem goteira!
Corre mamãe, o piso inundou,
A água já sobe no pé da geladeira!
Corre meu filho, vem nos meus braços.
Está levando tudo, a enxurrada!
Corre meu filho, o que é que eu faço?
Perdemos tudo, não temos mais nada!
Olha mamãe, os meus brinquedinhos,
Os meus caderninhos, a merendeira!
Olha mamãe, os meus chinelinhos,
Minha chupeta, minha mamadeira!...
Olha meu filho, a chuva está forte.
Levou geladeira, sofá e fogão.
Olha meu filho, a nossa sorte.
Não nos sobrou nem o colchão!
Vamos mamãe, não chora não,
Papai do céu vai te ajudar!
Vamos mamãe, agente dorme no chão,
Só até arranjar outro lugar!...




DELÍRIOS
Uma essência encobre meu corpo
Meus olhos se fecham,meu coração acelera.
Curvo-me diante do espelho
Ouço passos,meu corpo te espera.
Seus olhos me fitam
Envolve-me em seus braços, respiro seu cheiro.
Sinto sua pele,sinto você
No meu corpo inteiro.
Sua boca no meu ouvido
Sua respiração no meu pescoço, faço-me levada.
Deixo-me toda mulher,
só pra você Estou realizada.
Abro os olhos Olho pro espelho,
você não está lá.
Era só a saudade,a tanta vontade
Que me fez delirar!




PONTO POÉTICO
Se dois, sou reta; se nós, bordado.
Sou linha, sou tinta, na pele sou pinta;
Memória de um texto contracenado...
No céu a estrela que a forma nos finta.
Posso ser fixo, forte e determinado.
Marco presença, relógio... cartão.
Sou grau pelo qual meço algum valor,
Por acréscimo ou diminuição.
Na rosa-dos-ventos, sou cardeal.
Mudo de lugar, mudo o sentido.
Numa frase, sou essencial!
Afirmo, interrogo, exclamo e duvido.
Tenho o poder de fazer entender. Sim?!...
Sem minha presença... ... é difícil escrever!
Sou limite, sou triplo, sou patético!
De vista, de acumulação, de conto.
Sou até poético!... E sou pontual.
Quem sou?!
Sou o ponto
E ponto final

Aparecida Lisboa Penido ou simplesmente Cida Lisboa, como gosto de ser chamada. É mineira e mora na Bahia há dez anos. Escreve poesias desde adolescente, quando ganhou um concurso da revista Contigo; de lá pra cá nunca mais parou de escrever. Hoje, além de poesias compõe músicas e já ganhou um troféu como melhor MPB do sul da Bahia. Tem paixão por poesias e músicas e dificilmente passa um dia sem escrever.

Nenhum comentário:

Postar um comentário