quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus - 2006 - Texto Bruno Albuquerque Carneiro de Oliveira

Desfiguração do não ser

A solidão faz prece
Rezo eu
Reza você
Rezam todos...

Sofre você
Choro eu
Por mim,
Por você
Por todos...
Todos tolos!

Sombras vagam por entre vales luminosos
Ofuscando lumes ociosos.
Luzes fugidias pairam
Acima das expectativas
Do mais nobre dos esperançosos,
Fora de alcance...

Cores desintegram-se, degeneram-se
Arco-íris, preto, branco, cinza
Cinzas...
Descoloração do não ser,
Nuance...


Na medula da selva de pedra
A flora só cresce
Quem padece
É a fauna
Que sofre
Quando o amor fenece
No coração da alma

No deserto individual de cada
Habitam sonhos desidratados
Ermos povoados, repletos
De uma falsa paz alcançada sem tratados
Acordos ou pactos
Cidades fantasmas
Retiros superlotados
Jardins de cactos
Intactos espinhos
Famílias, amigos, vizinhos...
Aos cacos

A solidão faz prece
Rezo eu
Reza você
Rezam todos...

Sofre você
Choro eu
Por mim,
Por você
Por todos...
Todos tolos!


Silêncio

Silêncio!
Não quero ouvir nada!
Nem o tempo!Nem o vento!
Nem o pranto do arrependimento!
Nem o canto de minha amada!
Não quero ouvir nada!

Latidos, miados, grunhidos,
As crianças brincando na calçada,
Nem as mulheres dando risada!
Poupem meus ouvidos!
Quero a humanidade calada,
Não quero ouvir nada!

Almejo apenas um pouco de paz,
Só o silêncio gritando cada vez mais!
E o mundo mudo, calado,
Contemplando extasiado
A harmonia de suas notas musicais...


Divã

A poesia é meu divã.
É onde descarrego meu fardo passado
E busco a fonte do alívio de amanhã:
Rimas que me enchem de graça
Fazendo com que eu me refaça
E renasça a cada manhã.

É ela que capina e aterra
O sussurro lírico que berra
No meu Vietnã.

É ela que mata e enterra
Qualquer demonstração externa
Da minha guerra interna
Nessa cruzada por uma filosofia sã.

Na conquista da alegria
Minha arma é a poesia,
Meu divã,
Na luta pelo alívio de amanhã.

Bruno Albuquerque Carneiro de Oliveira (o poeta Dí Albuquerque) nasceu num dia dez de maio do ano de 1980, em Itabuna na Bahia. Com um ano e oito meses de idade, após o divórcio de seus pais, o poeta foi com sua mãe seu irmão viver no Rio de Janeiro, onde teve seus primeiros contatos com o mundo das artes através da Oficina para Atores de Ernesto Pícolo e Rogério Blat. Foi também onde começou a fazer poesias baseadas na desordem contemporânea. Aos vinte e quatro anos de idade, Dí Albuquerque retorna à sua terra natal e ingressa no grupo de declamação "A Sociedade dos Poetas Anônimos" e posteriormente na faculdade de jornalismo. O poeta lançou recentemente seu primeiro livro independente: TRABUZANA, uma abordagem poética atual, mordaz, crítica, mas sem perder a ternura da lírica ao agregar musicalidade ao caos de seus versos.

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